quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

American Release



Last week the American Release for TokyoShow took place at Downtown Theatre in Atlanta where people could watch it for free. Brazilian Release is coming soon.


statement

[TokyoShow] “A BUSCA DO AMOR”

“Baudrillard argumenta que há três níveis na simulação, onde o primeiro nível é uma óbvia cópia da realidade e o segundo nível uma cópia tão boa que suspende as fronteiras entre realidade e representação. O terceiro nível é a da produção da realidade sem se basear em qualquer elemento do mundo real. O melhor exemplo é provavelmente a ‘realidade virtual’ onde um mundo é gerado por meio de linguagens ou códigos.”[1]

Ilusão de aparência

Cenário, atuação, representação, simulação, ficção e boato. Estas palavras parecem ter um significado mais profundo nos dias de hoje onde “ser observado” tornou-se um tipo de cultura. Diariamente recebemos milhares de boatos de internet através de e-mails e isso faz parte do cotidiano de muitas pessoas.

O filme parece estar apoiado em algo real, mas na verdade, tudo remete a si mesmo. A novela “A caça do Samurai” não existe, foi implantada na sinopse simulando algum possível referencial através de outro personagem do projeto: Stuart Dogson Foster. A mistura de atores profissionais com pessoas de outras áreas atuando no mesmo filme reforça este aspecto de simulação conceituado por Jean Baudrillard; “cópias de cópias que se refletem mutuamente. A fotografia não consegue mais capturar o real a partir do momento em que a pessoa sabe que ali está a câmera, e posa para ela, simulando personas ou atitudes. Quem representa o quê?”.

O cinema, uma arte totalmente fragmentada, permite começar o trabalho a partir de qualquer ponto. O começo, meio e fim de uma história são definidos na edição, mesmo que o roteiro seja seguido pontualmente, por diversos motivos; desde o custo diário de uma produção até agendas de atores que nem sempre coincidem.

Isto posto, o cartaz do filme foi projetado antes dos personagens que foram montados antes do roteiro e da sinopse. O filme foi elaborado de trás pra frente. A trama de fato, não existe; ela se completa na mente do observador que inevitavelmente vai construir sua própria versão do filme com as pistas que este trabalho oferece através do trailer, sinopse, fotos e making of encontrados no site http://www.tokyoshow.org/ .

Para a construção de um “filme que não existe”, foi fundamental a utilização de clichês como artifício para a representação do “real”, desde o texto até lugares onde algumas cenas foram gravadas como Shanghai e Hong Kong, que acabaram sendo incorporados como áreas de Tóquio, mesmo sendo totalmente diferentes de qualquer lugar no Japão. Em praticamente todas as sinopses de filmes americanos foram encontradas expressões como “em busca pelo amor”, “contagiante”, “emocionante” ou ainda “surpreendente”. Estas palavras são recorrentes nestes textos. A sinopse foi escrita inicialmente em inglês para servir como suporte de uma versão em português posteriormente. Este trabalho traz uma questão conhecida como “Efeito Rashomon” – versões dos fatos seja ele real ou não. A tradução de “TokyoShow” em português, segundo este trabalho, ficou: “A Busca do Amor”.

Todos os personagens do filme são fumantes, uma atitude praticamente ficcional nos dias de hoje, dado que fumar é proibido em muitos locais. A única personagem não fumante é Meredith Bergmann que representa sua própria pessoa na trama. O filme (um curta se passando por um trailer de um longa-metragem) de cinco minutos contrapõe os trailers que nunca passam de três minutos.

“Evidentemente, a partir do momento onde o estúdio torna-se a central revolucionária e a tela o único lugar de aparição, todo mundo acorre ao estúdio para figurar a todo custo na tela, ou ainda, se reagrupa de preferência na rua sob a mira das câmeras, que, aliás, filmam-se umas as outras. A rua inteira torna-se um prolongamento do estúdio, isto é, um prolongamento do não-lugar do acontecimento, do lugar virtual do acontecimento. A rua torna-se também um espaço virtual.”[2]

O uso de perucas segue uma antiga tradição japonesa de teatro Kabuki e Nô para descrever a relação de mudança de identidade da protagonista; este costume é amplamente vivenciado nas ruas de Harajuku, em Tóquio, onde jovens se travestem nos banheiros públicos para se inserirem em determinados grupos, assumindo inclusive, uma nova identidade, assim como Barbra Scott (Alessandra Negrini).

Vale lembrar que no Japão este costume está diretamente ligado à representação máxima do high fashion. Seu uso intencional no filme, especificado na sinopse, levanta também uma questão sobre a cultura da celebridade instantânea tão presente atualmente. Uma pessoa pode se tornar uma celebridade por qualquer motivo, inclusive por vestir uma peruca azul.

Estes elementos nos dizem o tempo todo “este filme não existe da maneira que se apresenta”, mesmo assim acreditamos nele, pois traz atores profissionais atuando no projeto. O trabalho está registrado no Creative Commons com copyright aberto e pode ser veiculado livremente por qualquer pessoa. Este assunto é inevitável quando se fala em apropriação de imagens, músicas ou informações. "Esta obra foi concebida para ser apropriada e jamais poderá ser vendida: é uma obra pública".

Gustavo von Ha

[1] LANE, Richard. Jean Baudrillard. London: Routledge, 2.000, p. 30.
[2] Idem, Ibid., p.148-9.

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